Diário Eletrônico

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO

D.E.

Publicado em 06/12/2018
APELAÇÃO CÍVEL Nº 0022370-94.2018.4.03.9999/SP
2018.03.99.022370-1/SP
RELATOR : Desembargador Federal SERGIO NASCIMENTO
APELANTE : Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
APELADO(A) : REINALDO RODRIGUES DOS SANTOS
ADVOGADO : SP244942 FERNANDA GADIANI
No. ORIG. : 00016146120128260538 1 Vr SANTA CRUZ DAS PALMEIRAS/SP

EMENTA

PROCESSO CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. PRELIMINAR. SENTENÇA "CITRA PETITA". REJEIÇÃO. AUXÍLIO-DOENÇA. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. DEVOLUÇÃO DE PARCELAS RECEBIDAS A TÍTULO DE TUTELA DE URGÊNCIA. DESCABIMETO. BOA FÉ DA PARTE AUTORA. ENTENDIMENTO DO C. STF.
I-Rejeitada a preliminar arguida pelo réu, tendo em vista a inexistência de sentença "citra petita". O afastamento da obrigatoriedade de devolução de parcelas pagas a título de antecipação de tutela deu-se em virtude da cassação da liminar anteriormente concedida, não havendo que se cogitar da necessidade de pedido expresso na exordial nesse sentido, posto que o referido comando decorre da improcedência do pedido.
II- A restituição pretendida pelo INSS é indevida, porquanto as quantias auferidas pela parte autora tem natureza alimentar, não configurada a má fé do demandante em seu recebimento.
III-"A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal já assentou que o benefício previdenciário recebido de boa-fé pelo segurado, em decorrência de decisão judicial, não está sujeito à repetição de indébito, em razão de seu caráter alimentar. Precedentes." (ARE 734242, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 08.09.2015).
IV- Honorários advocatícios fixados em R$1.000,00 (um mil reais), conforme previsto no artigo 85, §§ 4º, III, e 8º, do CPC. A exigibilidade da verba honorária ficará suspensa por 05 (cinco) anos, desde que inalterada a situação de insuficiência de recursos que fundamentou a concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita, nos termos do artigo 98, §3º, do mesmo estatuto processual.
nestes casos.
V - Preliminar arguida pelo réu rejeitada. No mérito, apelação improvida.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Décima Turma do Tribunal Regional Federal da 3ª Região, por unanimidade, rejeitar a preliminar arguida pelo réu e, no mérito, negar provimento à sua apelação, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.


São Paulo, 27 de novembro de 2018.
SERGIO NASCIMENTO
Desembargador Federal Relator


Documento eletrônico assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que instituiu a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, por:
Signatário (a): SERGIO DO NASCIMENTO:10045
Nº de Série do Certificado: 11A21703174550D9
Data e Hora: 27/11/2018 17:01:33



APELAÇÃO CÍVEL Nº 0022370-94.2018.4.03.9999/SP
2018.03.99.022370-1/SP
RELATOR : Desembargador Federal SERGIO NASCIMENTO
APELANTE : Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
APELADO(A) : REINALDO RODRIGUES DOS SANTOS
ADVOGADO : SP244942 FERNANDA GADIANI
No. ORIG. : 00016146120128260538 1 Vr SANTA CRUZ DAS PALMEIRAS/SP

RELATÓRIO

O Exmo. Sr. Desembargador Federal Sérgio Nascimento (Relator): Trata-se de apelação interposta em face de sentença que julgou improcedente o pedido da parte autora e condenou-a ao pagamento de honorários advocatícios arbitrados em R$ 500,00 (quinhentos reais), exigíveis nos termos da lei de assistência judiciária gratuita, sem fixação de custas ou despesas processuais. Revogada a tutela de urgência, sem necessidade de devolução dos valores recebidos de boa fé, por decisão judicial.


Em suas razões recursais, o réu pugna, em preliminar, pela nulidade da sentença, em razão de ser "citra petita", vez que não há pedido na peça vestibular para afastar a cobrança de valores pagos a título de tutela antecipada. No mérito, aduz que a liminar obtida pela parte autora não gera boa fé para excluir a obrigatoriedade de devolução da benesse.


Sem contrarrazões.


É o relatório.



SERGIO NASCIMENTO
Desembargador Federal Relator


Documento eletrônico assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que instituiu a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, por:
Signatário (a): SERGIO DO NASCIMENTO:10045
Nº de Série do Certificado: 11A21703174550D9
Data e Hora: 27/11/2018 17:01:27



APELAÇÃO CÍVEL Nº 0022370-94.2018.4.03.9999/SP
2018.03.99.022370-1/SP
RELATOR : Desembargador Federal SERGIO NASCIMENTO
APELANTE : Instituto Nacional do Seguro Social - INSS
APELADO(A) : REINALDO RODRIGUES DOS SANTOS
ADVOGADO : SP244942 FERNANDA GADIANI
No. ORIG. : 00016146120128260538 1 Vr SANTA CRUZ DAS PALMEIRAS/SP

VOTO

Da preliminar

Nulidade da sentença, por ser "citra petita"

Rejeito a preliminar arguida pelo réu, tendo em vista a inexistência de sentença "citra petita".


Destaco que o afastamento da obrigatoriedade de devolução de parcelas pagas a título de antecipação de tutela deu-se em virtude da cassação da liminar anteriormente concedida, não havendo que se cogitar da necessidade de pedido expresso na exordial nesse sentido, posto que o referido comando decorre da improcedência do pedido.


Do mérito


O d. Juízo "a quo" julgou improcedente o pedido, eximindo a parte autora, entretanto, da devolução dos valores recebidos a título de tutela de urgência, ante a boa fé por força de decisão judicial e o princípio da irrepetibilidade da verba alimentar.


Com efeito, é assente na jurisprudência o entendimento de que os valores percebidos de boa-fé ou por equívoco administrativo não podem ser objeto de restituição, em face da natureza alimentar das prestações decorrentes de benefício previdenciário. De fato, a restituição de valores recebidos indevidamente pode representar sério desfalque às finanças do segurado, podendo-o levar a uma situação de extrema vulnerabilidade social, daí a proteção judicial nestes casos. Por outro lado, vigora em nosso ordenamento jurídico o princípio de vedação ao enriquecimento sem causa, de modo que aquele que recebeu valores indevidamente deve restituí-los a quem de direito. Portanto, a fim de compatibilizar estes dois vetores, há que se levar em conta as circunstâncias do caso concreto, no sentido de identificar se realmente há perigo iminente à sobrevivência do segurado.


Nesse sentido é o entendimento do C. Supremo Tribunal Federal, em hipótese similar:


DIREITO PREVIDENCIÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. NATUREZA ALIMENTAR. RECEBIMENTO DE BOA-FÉ EM DECORRÊNCIA DE DECISÃO JUDICIAL. TUTELA ANTECIPADA REVOGADA. DEVOLUÇÃO.
1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal já assentou que o benefício previdenciário recebido de boa-fé pelo segurado, em decorrência de decisão judicial, não está sujeito à repetição de indébito, em razão de seu caráter alimentar. Precedentes.
2. Decisão judicial que reconhece a impossibilidade de descontos dos valores indevidamente recebidos pelo segurado não implica declaração de inconstitucionalidade do art. 115 da Lei nº 8.213/1991. Precedentes.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(ARE 734242, Rel. Min. Roberto Barroso, DJe de 08.09.2015).
AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE SEGURANÇA. ACÓRDÃO DO TCU QUE DETERMINOU A IMEDIATA INTERRUPÇÃO DO PAGAMENTO DA URP DE FEVEREIRO DE 1989 (26,05%). EXCLUSÃO DE VANTAGEM ECONÔMICA RECONHECIDA POR DECISÃO JUDICIAL COM TRÂNSITO EM JULGADO. NATUREZA ALIMENTAR E A PERCEPÇÃO DE BOA-FÉ AFASTAM A RESTITUIÇÃO DOS VALORES RECEBIDOS ATÉ A REVOGAÇÃO DA LIMINAR. AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. A jurisprudência desta Corte firmou entendimento no sentido do descabimento da restituição de valores percebidos indevidamente em circunstâncias, tais como a dos autos, em que o servidor público está de boa-fé. (Precedentes: MS 26.085, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, DJe 13/6/2008; AI 490.551-AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, 2ª Turma, DJe 3/9/2010)
2. A boa-fé na percepção de valores indevidos bem como a natureza alimentar dos mesmos afastam o dever de sua restituição.
3. Agravo regimental a que se nega provimento.
(MS 25921 , Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 04.04.2016)

Honorários advocatícios fixados em R$1.000,00 (um mil reais), conforme previsto no artigo 85, §§ 4º, III, e 8º, do CPC. A exigibilidade da verba honorária ficará suspensa por 05 (cinco) anos, desde que inalterada a situação de insuficiência de recursos que fundamentou a concessão dos benefícios da assistência judiciária gratuita, nos termos do artigo 98, §3º, do mesmo estatuto processual.


Diante do exposto, rejeito a preliminar arguida pelo réu e, no mérito, nego provimento à sua apelação.


É como voto.



SERGIO NASCIMENTO
Desembargador Federal Relator


Documento eletrônico assinado digitalmente conforme MP nº 2.200-2/2001 de 24/08/2001, que instituiu a Infra-estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, por:
Signatário (a): SERGIO DO NASCIMENTO:10045
Nº de Série do Certificado: 11A21703174550D9
Data e Hora: 27/11/2018 17:01:30