AGRAVO DE INSTRUMENTO (202) Nº 5020122-89.2021.4.03.0000
RELATOR: Gab. 37 - DES. FED. NELSON PORFIRIO
AGRAVANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
AGRAVADO: PAMELA ROBERTA DOMINGUES
Advogado do(a) AGRAVADO: ALEXANDRE BULGARI PIAZZA - SP208595-N
OUTROS PARTICIPANTES:
AGRAVO DE INSTRUMENTO (202) Nº 5020122-89.2021.4.03.0000 RELATOR: Gab. 37 - DES. FED. NELSON PORFIRIO AGRAVANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS AGRAVADO: PAMELA ROBERTA DOMINGUES Advogado do(a) AGRAVADO: ALEXANDRE BULGARI PIAZZA - SP208595-N OUTROS PARTICIPANTES: R E L A T Ó R I O O Excelentíssimo Desembargador Federal Nelson Porfírio (Relator): Trata-se de agravo de instrumento interposto pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS em face de decisão que, nos autos de ação previdenciária objetivando a concessão de benefício assistencial à pessoa portadora de deficiência, deferiu a tutela de urgência. Em suas razões a autarquia alega que a parte agravada reside com sua genitora, nascida em 02.03.1960 (portanto não idosa) e que aufere pensão por morte, de modo que a renda no grupo familiar é de 1/2 (meio) salário por pessoa, ultrapassando o limite legal para a concessão do benefício. Requer a antecipação da tutela recursal e, ao final, o provimento do recurso. Intimada, a parte agravada deixou de apresentar contraminuta. O i. representante do Ministério Público Federal opinou pelo desprovimento do recurso (ID 210226167). É o relatório.
AGRAVO DE INSTRUMENTO (202) Nº 5020122-89.2021.4.03.0000 RELATOR: Gab. 37 - DES. FED. NELSON PORFIRIO AGRAVANTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS AGRAVADO: PAMELA ROBERTA DOMINGUES Advogado do(a) AGRAVADO: ALEXANDRE BULGARI PIAZZA - SP208595-N OUTROS PARTICIPANTES: V O T O O Exmo. Desembargador Federal Nelson Porfirio (Relator): A controvérsia restringe-se à aferição da renda do grupo familiar da parte agravada, para fins de recebimento, em sede de tutela de urgência, de benefício assistencial de prestação continuada a pessoa portadora de deficiência. O benefício assistencial de prestação continuada ou amparo social encontra assento no art. 203, V, da Constituição Federal, tendo por objetivo primordial a garantia de renda à pessoa deficiente e ao idoso com idade igual ou superior a 65 (sessenta e cinco anos) em estado de carência dos recursos indispensáveis à satisfação de suas necessidades elementares, bem assim de condições de tê-las providas pela família. No que tange à situação socioeconômica do beneficiário, consta do § 3º do art. 20 da Lei Orgânica da Assistência Social, com a redação dada pela Lei 12.435/2001 que "considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa com deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a 1/4 (um quarto) do salário-mínimo." Posteriormente, foi rechaçada a aferição da miserabilidade unicamente pelo critério objetivo previsto no art. 20, § 3º, da Lei 8.742/1993, passando-se a admitir o exame das reais condições sociais e econômicas do postulante ao benefício, como denota a seguinte decisão: "Agravos regimentais em reclamação. Perfil constitucional da reclamação. Ausência dos requisitos. Recursos não providos. 1. Por atribuição constitucional, presta-se a reclamação para preservar a competência do STF e garantir a autoridade de suas decisões (art. 102, inciso I, alínea l, CF/88), bem como para resguardar a correta aplicação de súmula vinculante (art. 103-A, § 3º, CF/88). 2. A jurisprudência desta Corte desenvolveu parâmetros para a utilização dessa figura jurídica, dentre os quais se destaca a aderência estrita do objeto do ato reclamado ao conteúdo das decisões paradigmáticas do STF. 3. A definição dos critérios a serem observados para a concessão do benefício assistencial depende de apurado estudo e deve ser verificada de acordo com as reais condições sociais e econômicas de cada candidato à beneficiário, não sendo o critério objetivo de renda per capta o único legítimo para se aferir a condição de miserabilidade. Precedente (Rcl nº 4.374/PE) 4. Agravos regimentais não providos." (Rcl 4154 AgR, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 19/09/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-229 DIVULG 20-11-2013 PUBLIC 21-11-2013) O Superior Tribunal de Justiça já admitia outros meios de prova para aferir a hipossuficiência do postulante ao amparo assistencial, além do montante da renda per capita, reputando a fração estabelecida no § 3º do art. 20 da Lei 8.742/1993 como parâmetro abaixo do qual a miserabilidade deve ser presumida de forma absoluta. Atualmente encontra-se superada a discussão em torno da renda per capita familiar como único parâmetro de medida do critério socioeconômico, pois, com a inclusão pela Lei 13.146/2015 do § 11 no art. 20 da Lei Orgânica da Assistência Social, passou a constar previsão legal expressa autorizando a utilização de outros elementos probatórios para a verificação da miserabilidade e do contexto de vulnerabilidade do grupo familiar exigidos para a concessão do benefício assistencial de prestação continuada. No tocante à demonstração da miserabilidade para o caso concreto, o Estudo Social produzido indica que o núcleo familiar é integrado pela parte postulante e sua genitora. À época (03/2020) foi informado que a renda mensal do núcleo familiar é constituída de um salário mínimo recebido pela genitora a título de pensão por morte. O imóvel em que residem pertence à genitora e a tios maternos da autora, e, segundo a assistente social, trata-se de residência humilde em bairro que apresenta vulnerabilidade e risco social, contendo na casa apenas a mobília e eletrodomésticos necessários (ID 182777736 - págs. 57/82). Tendo em vista que o benefício recebido pela genitora, hoje com 61 anos, é equivalente a 01 (um) salário mínimo, deve ser excluído do cômputo da renda familiar, que será, portanto, zero. Dessa forma, considerando a renda indicada, os gastos básicos mensais apontados no estudo social e as demais condições informadas, considero presentes os requisitos do artigo 300, do Código de Processo Civil para a concessão do benefício em sede de tutela de urgência no que concerne à comprovação da hipossuficiência da autora. Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo de instrumento. É como voto.
E M E N T A
PREVIDENCIÁRIO. PROCESSUAL CIVIL. BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DE PRESTAÇÃO CONTINUADA. PESSOA PORTADORA DE DEFICIÊNCIA. TUTELA DE URGÊNCIA. HIPOSSUFICIÊNCIA COMPROVADA.
1. A controvérsia restringe-se à aferição da renda do grupo familiar da parte agravada, para fins de recebimento, em sede de tutela de urgência, de benefício assistencial de prestação continuada a pessoa portadora de deficiência.
2. O benefício assistencial de prestação continuada ou amparo social encontra assento no art. 203, V, da Constituição Federal, tendo por objetivo primordial a garantia de renda à pessoa deficiente e ao idoso com idade igual ou superior a 65 (sessenta e cinco anos) em estado de carência dos recursos indispensáveis à satisfação de suas necessidades elementares, bem assim de condições de tê-las providas pela família.
3. Atualmente encontra-se superada a discussão em torno da renda per capita familiar como único parâmetro de medida do critério socioeconômico, pois, com a inclusão pela Lei 13.146/2015 do § 11 no art. 20 da Lei Orgânica da Assistência Social, passou a constar previsão legal expressa autorizando a utilização de outros elementos probatórios para a verificação da miserabilidade e do contexto de vulnerabilidade do grupo familiar exigidos para a concessão do benefício assistencial de prestação continuada.
4. No tocante à demonstração da miserabilidade para o caso concreto, o Estudo Social produzido indica que o núcleo familiar é integrado pela parte postulante e sua genitora. À época (03/2020) foi informado que a renda mensal do núcleo familiar é constituída de um salário mínimo recebido pela genitora a título de pensão por morte. O imóvel em que residem pertence à genitora e a tios maternos da autora, e, segundo a assistente social, trata-se de residência humilde em bairro que apresenta vulnerabilidade e risco social, contendo na casa apenas a mobília e eletrodomésticos necessários.
5. Tendo em vista que o benefício recebido pela genitora, hoje com 61 anos, é equivalente a 01 (um) salário mínimo, deve ser excluído do cômputo da renda familiar, que será, portanto, zero. Hipossuficiência da parte autora comprovada.
6. Agravo de instrumento desprovido.