Diário Eletrônico

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO
 PODER JUDICIÁRIO
Turmas Recursais dos Juizados Especiais Federais Seção Judiciária de São Paulo
1ª Turma Recursal da Seção Judiciária de São Paulo

RECURSO INOMINADO CÍVEL (460) Nº 0004608-52.2020.4.03.6327

RELATOR: 2º Juiz Federal da 1ª TR SP

RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

RECORRIDO: DANIEL APARECIDO DE ASSIS

OUTROS PARTICIPANTES:

 

 


 

  

 PODER JUDICIÁRIO
JUIZADO ESPECIAL FEDERAL  DA 3ª REGIÃO
TURMAS RECURSAIS DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS DE SÃO PAULO

 

RECURSO INOMINADO CÍVEL (460) Nº 0004608-52.2020.4.03.6327

RELATOR: 2º Juiz Federal da 1ª TR SP

RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

 

RECORRIDO: DANIEL APARECIDO DE ASSIS

 

OUTROS PARTICIPANTES:

 

 

R E L A T Ó R I O

 

1. Trata-se de recurso interposto pelo INSS em face da sentença que JULGOU PROCEDENTE o pedido, condenando o INSS a implantar o benefício assistencial de prestação continuada de um salário mínimo, previsto no artigo 203, inciso V, da Constituição da República, e instituído pela Lei n° 8.742, de 07.12.93.

O INSS alega em apertada síntese o não preenchimento dos requisitos exigidos para a concessão do benefício e requer a reforma da sentença para improcedência do pedido.

É o relatório.

 

 


 PODER JUDICIÁRIO
JUIZADO ESPECIAL FEDERAL  DA 3ª REGIÃO
TURMAS RECURSAIS DOS JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS DE SÃO PAULO

 

RECURSO INOMINADO CÍVEL (460) Nº 0004608-52.2020.4.03.6327

RELATOR: 2º Juiz Federal da 1ª TR SP

RECORRENTE: INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS

 

RECORRIDO: DANIEL APARECIDO DE ASSIS

 

OUTROS PARTICIPANTES:

 

V O T O

 

2. Para fins de concessão do benefício assistencial, o conceito de grupo familiar deve ser obtido mediante interpretação restrita das disposições contidas no § 1º, do art. 20, da Lei 8.742/93 com redação dada pela Lei n. 12.435/2011 para benefícios requeridos após 06.07.2011 e, nos termos do art. 16, da Lei 8.8213/91 para benefícios requeridos antes de 06.07.2011, desde que vivam sob o mesmo teto. (TNU – PEDILEF 00858405820064036301).

3. Os julgamentos proferidos na Reclamação n. 4374 e no Recurso Extraordinário n. 567.985, pelo Supremo Tribunal Federal, permitiram aos juízes e tribunais, o exame do pedido da concessão do benefício em comento fora dos parâmetros objetivos fixados pelo artigo 20 da LOAS, podendo-se adotar o critério do valor de meio salário mínimo como referência para aferição da renda familiar per capita. O critério de um quarto do salário mínimo utilizado pela LOAS está completamente defasado e inadequado para aferir a miserabilidade das famílias, que, de acordo com o artigo 203, parágrafo 5º, da Constituição, possuem o direito ao benefício assistencial.

4. Nesse contexto, a Súmula 21 da Turma Regional de Uniformização prescreve: “Na concessão do benefício assistencial, deverá ser observado como critério objetivo a renda per capita de ½ salário mínimo gerando presunção relativa de miserabilidade, a qual poderá ser infirmada por critérios subjetivos em caso de renda superior ou inferior a ½ salário mínimo."

5. Outrossim, no Recurso Extraordinário n. 580.963, o Supremo Tribunal Federal declarou a inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 34, parágrafo único, da Lei 10.741/2003, por entender que devem ser descontados do cálculo da renda familiar também os benefícios referentes ao amparo social ao deficiente e os decorrentes de aposentadoria apenas no importe e um salário mínimo.

6. Aplica-se, ainda, a Súmula 22 da Turma Regional de Uniformização: “Apenas os benefícios previdenciários e assistenciais no valor de um salário mínimo recebidos por qualquer membro do núcleo familiar devem ser excluídos para fins de apuração da renda  mensal per capita objetivando a concessão de benefício de prestação continuada".

7. A despeito do conceito de grupo familiar, deve ser analisado, conforme recente entendimento consolidado pela TRU o dever legal de prestação de alimentos pelos sucessores da parte autora. Prescreve a SÚMULA Nº 23: "O benefício de prestação continuada (LOAS) é subsidiário e para sua concessão não se prescinde da análise do dever legal de prestar alimentos previsto no Código Civil "

8. Com efeito, o benefício de prestação continuada não se dirige àqueles que se encontram em posição de pobreza, mas aos submetidos à condição de miséria, indigência ou extrema pobreza. Isto porque, o benefício de prestação continuada serve para resgatar a pessoa da miséria e não para complementar sua renda.

9. Com relação ao requisito da deficiência, considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas. Ademais, de acordo com a Súmula 48 TNU, a incapacidade não precisa ser permanente, devendo, no entanto, ter duração mínima de dois anos, conforme determina o § 10 do artigo 20, da Lei n. 8.742/1993.

10. Nesse sentido, é a previsão da Súmula 48 da TNU, com nova redação alterada na sessão de 25.4.2019 (DJe nº 40. DATA: 29/04/2019):

 

"Para fins de concessão do benefício assistencial de prestação continuada, o conceito de pessoa com deficiência, que não se confunde necessariamente com situação de incapacidade laborativa, exige a configuração de impedimento de longo prazo com duração mínima de 2 (dois) anos, a ser aferido no caso concreto, desde o início do impedimento até a data prevista para a sua cessação."

 

11. No presente caso, de acordo com o elencado pelo Juízo a quo em sua r. sentença recorrida, observo que o requisito relativo à deficiência foi dispensado, tendo em vista tratar os autos de pedido de restabelecimento de benefício e a sua cessação está relacionada unicamente à renda familiar: “...Dispensada a realização de perícia médica, pois o benefício foi cessado em razão da renda familiar, não havendo discussão acerca da presença do requisito subjetivo (deficiência)...”

12. No que respeita à apuração da renda mensal familiar “per capita”, nos termos do acórdão do Recurso Extraordinário nº 567.985 que declarou incidenter tantum a inconstitucionalidade parcial, sem pronúncia de nulidade, do art. 20, § 3º, da Lei nº 8.742/1993, o Plenário do Supremo Tribunal Federal declarou a necessidade de que seja analisado, em concreto e caso a caso, a efetiva falta de meios para que o deficiente ou o idoso possa prover a própria manutenção ou tê-la provida por sua família. Desse modo, deve-se analisar a situação concreta da parte autora, verificando se ela ou a sua família têm condições de prover a subsistência de forma digna, cabendo o benefício somente nos casos em que essa situação não esteja presente.  

13. Em relação ao requisito da miserabilidade, as informações contidas no laudo socioeconômico (Documento n. 183006002), permitem verificar que, a parte autora, não possui meios de prover sua subsistência, nem de tê-la provida pela sua família. Denota-se que, à época da realização do estudo social, a renda per capita do grupo familiar (autora, pai e irmão) era inferior a meio salário mínimo (RE 567.985). Assim, com base nas informações contidas no relatório socioeconômico, verifico que a família é caracterizada como sendo de baixa renda, público alvo de assistência em situação de risco pessoal e social sendo claramente notável estado penúria, como bem descrito pelo Juízo a quo em sua r. sentença recorrida, in verbis:

 

“...Quanto ao requisito objetivo, qual seja, a hipossuficiência, na forma preconizada pela Lei 8.742/93, tenho que restou devidamente demostrada no caso dos autos.

O Laudo socioeconômico informa que o autor reside com a genitora Sueli Aparecida de Assis e o padrasto Valdecir Francisco Alves, em imóvel locado por R$700,00, com 05 cômodos contendo 01 banheiro, 02 quartos, 01 sala e 1 cozinha.(evento nº 28).

Consta do laudo que a genitora do autor "olha os netos para filha Ana Claudia de Assis trabalhar ela ajuda apagar a metade do aluguel no valor de R$350,00 mensal e paga a água no valor de R$130,00 mensal, o fiho Leandro Salis de Assis ajuda a pagar a luz no valor de R$210,00 mensal."

As despesas foram orçadas em R$1.730,00 e a renda advém do cuidado dos netos pela genitora (R$480,00) e do trabalho informal do padrasto (R$600,00)

Desta forma, diante da situação de pobreza em que o requerente vive, resta clara a situação de hipossuficiente econômica.

Presentes todos os requisitos legais, a parte autora tem direito ao restabelecimento do benefício de prestação continuada.

Diante do exposto, com fundamento no art. 487, I, do Código de Processo Civil, JULGO PROCEDENTE o pedido para condenar o réu a restabelecer o benefício assistencial desde a data da cessação em 02/06/2019...”

 

14. O parquet federal em seu parecer opinou pela procedência do pedido descrito na exordial (Documento n. 183006006), nos seguintes termos:

 

“...De acordo com o estudo socioeconômico realizado, o grupo familiar da autora é composto por três pessoas: o requerente, Daniel Aparecido; sua genitora e curadora, Sueli Aparecida de Assis, 51 anos; e seu padrasto, Valdecir Francisco Alves, 55 anos.

Quanto aos meios de sobrevivência, o estudo dá conta de que a única renda familiar advém de rendimentos informais do padrasto do requerente, no valor de R$ 600,00.

Desta feita, a renda per capita familiar atual é de R$ 200,00.

Todas as despesas apresentadas no estudo socieconômico são essenciais e indispensáveis a subsistência da parte autora e sua família, não havendo qualquer item que possa ser desconsiderado ou excluído a fim de adequar a renda.

A mãe do requerente teve que deixar o mercado de trabalho para acompanhar o requerente e, ainda que os filhos Ana Cláudia e Leandro ajudem nas despesas da família, não são suficientes para cobrir todas as despesas do grupo familiar.

O laudo social demonstra situação bastante precária da família, relata que reside em uma casa simples, não possui automóvel, computador e os móveis são antigos.

Logo, patente a situação de miserabilidade da parte autora e de sua família, sendo que no momento não há meios para proporcionar uma vida digna aos mesmos, bem como suprir suas necessidades vitais.

Portanto, preenchidos os requisitos legais, de imediato surge a obrigação ao Estado de prestar assistência ao deficiente.

Ante o exposto, o MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL oficia pela PROCEDÊNCIA da presente ação, para que seja concedido o benefício assistencial no valor de um salário mínimo ao autor...”

 

Considero, pelo exposto, devidamente comprovado o requisito da hipossuficiência econômica.

15. Desse modo, as informações contidas no levantamento socioeconômico permitem concluir que a parte autora não possui meios de prover sua manutenção com dignidade, nem de tê-la provida por sua família. Considero, pelo exposto, devidamente comprovado o requisito da hipossuficiência econômica.

16. A prestação da assistência social, através do benefício requerido, tem natureza não contributiva e exige uma análise prévia e rigorosa das reais condições do requerente. O Estado só deve ser obrigado a prestá-la quando cumpridos os requisitos legais, ou seja, a constatação da incapacidade do requerente e efetiva comprovação de verdadeiro estado de hipossuficiência.

17. A decisão de antecipação dos efeitos da tutela encontra-se amparada na legislação aplicável (art. 4º da Lei 10.259/2001), havendo dano de difícil reparação a ser evitado, no caso, a privação de recursos indispensáveis à subsistência da parte autora. Nesse caso, não cabe atribuir efeito suspensivo ao recurso.

18. Ante o exposto, analisando o caso de acordo com os critérios acima delineados, nego provimento ao recurso do INSS, mantendo a sentença recorrida, por seus próprios fundamentos, conforme o artigo 46 da Lei nº 9.099/95 c/c artigo 1º, da Lei nº 10.259/01.

19. Condeno a parte ré ao pagamento de honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou do valor atualizado da causa, conforme art. 85, §3º, I, c/c §4, III, ambos do Código de Processo Civil/2015.

20. É o voto.

 



E M E N T A

 

PREVIDENCIÁRIO. LOAS (DEFICIENTE). SENTENÇA DE PROCEDÊNCIA. RECURSO DO INSS. REQUISITOS PARA A CONCESSÃO DO BENEFÍCIO PREENCHIDOS. RECURSO DO INSS IMPROVIDO. SENTENÇA MANTIDA.


  ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, Vistos, relatados e discutidos estes autos eletrônicos, em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira Turma Recursal do Juizado Especial Federal Cível de São Paulo – Seção Judiciária de São Paulo, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto da Juíza Federal Relatora. Participaram do julgamento os Senhores Juízes Federais: Flávia de Toledo Cera, Fernando Moreira Gonçalves e Tatiana Pattaro Pereira., nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.