Diário Eletrônico

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 3ª REGIÃO
 PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 3ª Região
1ª Turma

APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 0061797-64.1995.4.03.6100

RELATOR: Gab. 02 - DES. FED. WILSON ZAUHY

APELANTE: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

Advogado do(a) APELANTE: DIEGO MARTIGNONI - RS65244-A

APELADO: ARTUR CUNHA NETO, RENATA RIZZO, FABIO DE SOUZA MARCOPITO, CLAUDIO APARECIDO DE OLIVEIRA, JOAO BATISTA PERICO, FLAVIA DE OLIVEIRA PERICO, ANTONIO EVARISTO FARIA, ADILSON SILVA BATSCHER, ANAI COSTA SANTOS PELAI, ANTONIO PELAI, MAURICIO DO NASCIMENTO, DECIO ANTONIO DE CARVALHO, RENATO FARINAS RODRIGUES, LECI LOPES RODRIGUES, REINALDO FERREIRA DE BARROS, MARCIA LATORRE DE BARROS, MARIA DE LOURDES DA SILVA, ANTONIO BERNARDO DOS REIS, TANIA REGINA LOUZADA, MARCOS JOAO CIOLFI, ELIANE GONCALVES CIOLFI, ANA BERNADINO VERDASCA, ANTONIO TEIXEIRA ALVES, MARGARETH JANUARIO TEIXEIRA ALVES, MAURICIO JOSE DOS SANTOS, MARIA REGINA MAGALHAES DOS SANTOS, MARCELO DOS SANTOS MARTINS, MARIA NAIDE DE PAULA SALVIANO, DOUGLAS PADILHA, LUIZA HELENA MIOTTO GARRIDO, EDUARDO DE AGUIAR AIGNER, ALEXANDRE SOUZA MAIA, AFONSO FERRARI NETO, MARIA IRENE ANDRE FERRARI, MARCOS GOMES DE MOURA, HECYR ENGENHARIA E CONSTRUCOES LTDA, WALTER ROSSETTO, NEIDE DE CARVALHO ROSSETO, MARCOS JOÃO CIOLFI, ELIANE GONÇALVES, ANTONIO DELBIANCO, REGINA APARECIDA DELBIANCO, VALDEMIR ANTONIO MARIANO, ROSANA MARIANO, GILMAR JOSÉ ROMBALDI, ROSE FILIPINA TADEU RICCA ROMBALDI

Advogados do(a) APELADO: FELICE BALZANO - SP93190-A, LUIZ MURILLO INGLEZ DE SOUZA FILHO - SP120308-A
Advogado do(a) APELADO: LUIZ MURILLO INGLEZ DE SOUZA FILHO - SP120308-A
Advogado do(a) APELADO: ALFREDO LUIZ KUGELMAS - SP15335-A

OUTROS PARTICIPANTES:

 

 


 

  

 PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 3ª Região
1ª Turma
 

APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 0061797-64.1995.4.03.6100

RELATOR: Gab. 02 - DES. FED. WILSON ZAUHY

APELANTE: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

Advogado do(a) APELANTE: DIEGO MARTIGNONI - RS65244-A

APELADO: ARTUR CUNHA NETO, RENATA RIZZO, FABIO DE SOUZA MARCOPITO, CLAUDIO APARECIDO DE OLIVEIRA, JOAO BATISTA PERICO, FLAVIA DE OLIVEIRA PERICO, ANTONIO EVARISTO FARIA, ADILSON SILVA BATSCHER, ANAI COSTA SANTOS PELAI, ANTONIO PELAI, MAURICIO DO NASCIMENTO, DECIO ANTONIO DE CARVALHO, RENATO FARINAS RODRIGUES, LECI LOPES RODRIGUES, REINALDO FERREIRA DE BARROS, MARCIA LATORRE DE BARROS, MARIA DE LOURDES DA SILVA, ANTONIO BERNARDO DOS REIS, TANIA REGINA LOUZADA, MARCOS JOAO CIOLFI, ELIANE GONCALVES CIOLFI, ANA BERNADINO VERDASCA, ANTONIO TEIXEIRA ALVES, MARGARETH JANUARIO TEIXEIRA ALVES, MAURICIO JOSE DOS SANTOS, MARIA REGINA MAGALHAES DOS SANTOS, MARCELO DOS SANTOS MARTINS, MARIA NAIDE DE PAULA SALVIANO, DOUGLAS PADILHA, LUIZA HELENA MIOTTO GARRIDO, EDUARDO DE AGUIAR AIGNER, ALEXANDRE SOUZA MAIA, AFONSO FERRARI NETO, MARIA IRENE ANDRE FERRARI, MARCOS GOMES DE MOURA, HECYR ENGENHARIA E CONSTRUCOES LTDA, WALTER ROSSETTO, NEIDE DE CARVALHO ROSSETO, MARCOS JOÃO CIOLFI, ELIANE GONÇALVES, ANTONIO DELBIANCO, REGINA APARECIDA DELBIANCO, VALDEMIR ANTONIO MARIANO, ROSANA MARIANO, GILMAR JOSÉ ROMBALDI, ROSE FILIPINA TADEU RICCA ROMBALDI

Advogado do(a) APELADO: LUIZ MURILLO INGLEZ DE SOUZA FILHO - SP120308-A
Advogado do(a) APELADO: ALFREDO LUIZ KUGELMAS - SP15335-A

OUTROS PARTICIPANTES:

 

 

R E L A T Ó R I O

 

Trata-se de apelação interposta pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CEF contra embargos de terceiro opostos por ARTUR CUNHA NETO E OUTROS em face da apelante e de HECYR ENGENHARIA E CONSTRUÇÕES LTDA.

 

Narram os embargantes em sua inicial que a coembargada CEF ajuizou ação de execução por quantia certa contra devedor solvente em face da coembargada Hecyr, em razão de dívida fundada em financiamento concedido pelo banco estatal.

 

Dizem que, nada obstante, a coembargada Hecyr deu em hipoteca imóveis que não mais lhe pertenciam, consistentes em unidades condominiais do empreendimento imobiliário denominado "Condominio Edifício Renata", das quais os embargantes são compromissários compradores e legítimos possuidores. Afirmam que os imóveis foram objeto de arresto (ID 90065698 - pág. 27/55).

 

Contestação pela CEF (ID 90065659 - pág. 85/98).

 

Contestação pela Massa Falida da coembargada Hecyr (ID 90065659 - pág. 182/184).

 

Em sentença prolatada em 30/01/2007, o Juízo de Origem julgou extinto o processo sem resolução do mérito em face da coembargada massa falida de Hecyr, sem condenação em honorários, e julgou procedente o pedido em face da CEF para declarar insubsistente o arresto efetuado sobre as unidades autônomas do “Condomínio Renata”, condenando a CEF ao pagamento de custas e honorários, estes fixados em R$ 10.000,00 (dez mil reais) (ID 90065659 - pág. 195/197 e ID 90065660 - pág. 01/10).

 

Embargos de declaração opostos pela CEF foram rejeitados (ID 90065660 - pág. 20/24 e 25/26).

 

A CEF apela para ver o pedido julgado improcedente, sustentando a validade e indivisibilidade da hipoteca instituída sobre os imóveis, da qual os adquirentes não podem alegar ignorância, e que a transferência dos bens não prejudica o ônus real (ID 90065660 - pág. 32/44).

 

Contrarrazões pela parte autora (ID 90065660 - pág. 51/62).

 

É o relatório.

 

 

 


 PODER JUDICIÁRIO
Tribunal Regional Federal da 3ª Região
1ª Turma
 

APELAÇÃO CÍVEL (198) Nº 0061797-64.1995.4.03.6100

RELATOR: Gab. 02 - DES. FED. WILSON ZAUHY

APELANTE: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL

Advogado do(a) APELANTE: DIEGO MARTIGNONI - RS65244-A

APELADO: ARTUR CUNHA NETO, RENATA RIZZO, FABIO DE SOUZA MARCOPITO, CLAUDIO APARECIDO DE OLIVEIRA, JOAO BATISTA PERICO, FLAVIA DE OLIVEIRA PERICO, ANTONIO EVARISTO FARIA, ADILSON SILVA BATSCHER, ANAI COSTA SANTOS PELAI, ANTONIO PELAI, MAURICIO DO NASCIMENTO, DECIO ANTONIO DE CARVALHO, RENATO FARINAS RODRIGUES, LECI LOPES RODRIGUES, REINALDO FERREIRA DE BARROS, MARCIA LATORRE DE BARROS, MARIA DE LOURDES DA SILVA, ANTONIO BERNARDO DOS REIS, TANIA REGINA LOUZADA, MARCOS JOAO CIOLFI, ELIANE GONCALVES CIOLFI, ANA BERNADINO VERDASCA, ANTONIO TEIXEIRA ALVES, MARGARETH JANUARIO TEIXEIRA ALVES, MAURICIO JOSE DOS SANTOS, MARIA REGINA MAGALHAES DOS SANTOS, MARCELO DOS SANTOS MARTINS, MARIA NAIDE DE PAULA SALVIANO, DOUGLAS PADILHA, LUIZA HELENA MIOTTO GARRIDO, EDUARDO DE AGUIAR AIGNER, ALEXANDRE SOUZA MAIA, AFONSO FERRARI NETO, MARIA IRENE ANDRE FERRARI, MARCOS GOMES DE MOURA, HECYR ENGENHARIA E CONSTRUCOES LTDA, WALTER ROSSETTO, NEIDE DE CARVALHO ROSSETO, MARCOS JOÃO CIOLFI, ELIANE GONÇALVES, ANTONIO DELBIANCO, REGINA APARECIDA DELBIANCO, VALDEMIR ANTONIO MARIANO, ROSANA MARIANO, GILMAR JOSÉ ROMBALDI, ROSE FILIPINA TADEU RICCA ROMBALDI

Advogado do(a) APELADO: LUIZ MURILLO INGLEZ DE SOUZA FILHO - SP120308-A
Advogado do(a) APELADO: ALFREDO LUIZ KUGELMAS - SP15335-A

OUTROS PARTICIPANTES:

 

 

V O T O

 

Tenho que o recurso não comporta provimento.

Isto porque está plasmado na Jurisprudência do C. Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que “A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel”, consoante enunciado de sua Súmula n° 308.

Em que pese referida súmula tenha sido editada em 2005, portanto após o ajuizamento da presente demanda, vê-se que um de seus fundamentos normativos é o artigo 756 do Código Civil de 1916, já vigente à época dos fatos e do ajuizamento da demanda, e que assim dispunha: 

“Art. 756. Só aquele que pode alienar, poderá hipotecar, dar em anticrese, ou empenhar. Só as coisas que se podem alienar poderão ser dadas em penhor, anticrese, ou hipoteca.

Parágrafo único. O domínio superveniente revalida, desde a inscrição, as garantias reais estabelecidas por quem possuía a coisa a título de proprietário”.

Não se pode admitir a tese de que deve subsistir a hipoteca em comento em razão do inadimplemento de dívida da construtora com a CEF, já que aos embargantes adquirentes – além de não ser eficaz a garantia real em questão, como visto até aqui - só era possível realizar o pagamento do contrato de financiamento, não lhes sendo dado exigir da construtora que destinasse tais recursos para o pagamento de débito dele em relação à CEF.

Em outras palavras, a prevalecer a tese recursal, se estaria a impor aos autores obrigação impossível, consistente em determinar à construtora e/ou incorporadora que destinasse os recursos por eles pagos à CEF, sob pena de seus imóveis continuarem a se sujeitar a ônus real para garantir dívida contraída com o banco apelante, o que não se pode admitir.

A estas razões acrescento os fundamentos adotados em sentença, no sentido de que a CEF contribuiu para o estado de coisas em que se encontram os embargantes ao não observar devidamente seu dever contratual de fiscalizar a comercialização das unidades, como revela o seguinte trecho da sentença (ID 90065660 - pág. 05/07):

“(...)

Não se pode admitir a tese de que deve subsistir a hipoteca em comento em razão do inadimplemento de dívida da construtora com a CEF, já que à autora adquirente – além de não ser eficaz a garantia real em questão, como visto até aqui - só era possível realizar o pagamento do contrato de financiamento, não lhes sendo dado exigir da construtora que destinasse tais recursos para o pagamento de débito dele em relação à CEF.

(...)

Sabedora da construção do prédio, a Caixa Econômica Federal buscou resguardar sua posição de mutuante, em especial pela cláusula décima:

(...)

Pela cláusula acima, e seus parágrafos, fica claro que competia à Caixa Econômica Federal gerir e fiscalizar toda a comercialização do empreendimento imobiliário.

A ela competia anuir nos financiamentos, e não o fez. A ela cabia demandar o cumprimento do caput da cláusula em epígrafe, e não o fez.

Ao permitir que a negociação das unidades fosse efetuada pela construtora sem a adoção das medidas previstas na escritura pública de mútuo, as quais cabia a ela fiscalizar, a Caixa Econômica Federal atuou com inegável participação para resultado que quer ver corrigido a custa de terceiros: o não recebimento de seu crédito.

Em grande parte, a Caixa Econômica Federal não recebeu seu crédito por sua própria culpa.

Por sua culpa, embora seja titular de um direito de seqüela sobre o imóvel, em virtude da garantia hipotecária, deixou que terceiros de boa-fé fossem envolvidos pela negociata da construtora, que recebeu o pagamento deles e não cumpriu o caput da cláusula décima acima transcrita. Agora quer ver-se satisfeita em seu crédito a custa da boa-fé alheia. Posição cômoda, que, a este Juízo, torna muito claro o abuso de direito.

Pelo fato de ter contribuído para o não recebimento de seu próprio crédito, e pelo fato de ter deixado que terceiros de boa-fé fossem envolvidos na negociata da construtora, sem opor-se à realização de compromisso de venda das unidades ao qual não anuiu, a Caixa Econômica Federal criou, em relação aos embargantes, um impedimento para o exercício do direito de seqüela que possui em razão da hipoteca, dada a ilicitude ínsita a toda forma de abuso de direito.

(...)”.

Sem honorários recursais, uma vez que a sentença foi publicada antes da vigência do CPC/2015 (art. 14 do CPC/2015 e enunciado administrativo n° 7/STJ).

Ante o exposto, voto por negar provimento à apelação.

É como voto.



E M E N T A

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE TERCEIRO. HIPOTECA FIRMADA ENTRE CONSTRUTORA E AGENTE FINANCEIRO. INEFICÁCIA EM RELAÇÃO AOS ADQUIRENTES. SÚMULA 308/STJ. HONORÁRIOS RECURSAIS: NÃO CABIMENTO.

1. Embargos de terceiro opostos pelos adquirentes de unidades imobiliárias objeto de hipoteca firmada entre construtora e agente financeiro, em razão da qual os bens foram objeto de arresto em ação de execução ajuizada pelo banco em desfavor da construtora.

2. “A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à celebração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do imóvel”. Súmula n° 308 do Superior Tribunal de Justiça.

3. Este entendimento é aplicável ao caso concreto, uma vez que um de seus fundamentos normativos é o artigo 756 do Código Civil de 1916, já vigente à época dos fatos e do ajuizamento da demanda.

4. A prevalecer a tese recursal, se estaria a impor aos autores obrigação impossível, consistente em determinar à construtora e/ou incorporadora que destinasse os recursos por eles pagos à CEF, sob pena de seus imóveis continuarem a se sujeitar a ônus real para garantir dívida contraída com o banco apelante, o que não se pode admitir.

5. Sem honorários recursais, uma vez que a sentença foi publicada antes da vigência do CPC/2015 (art. 14 do CPC/2015 e enunciado administrativo n° 7/STJ).

6. Apelação não provida.


  ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, a Primeira Turma, por unanimidade, negou provimento à apelação, nos termos do relatório e voto que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.