O valor de estar presente foi tema abordado pelo físico irlandês Stephen Little
O Tribunal Regional Federal da 3.ª Região (TRF3) promoveu na manhã de quinta-feira (4/4) a palestra “Viver em Plenitude: o valor de estar presente”, ministrada pelo físico irlandês Stephen Little. O evento faz parte do ciclo de palestras em comemoração aos 30 anos do Tribunal.
A mesa de abertura do evento contou com a presença da Juíza Federal em Auxílio à Presidência e idealizadora do evento, Raquel Perrini e do Desembargador Federal Paulo Fontes que parabenizou a Presidente Therezinha Cazerta e a Juíza Federal Raquel Perrini pela maravilhosa semana que tem proporcionado a todos em comemoração aos 30 anos do Tribunal.
“Vontade não falta. Falta percepção”
O Professor Stephen Little dedica-se à meditação conhecida como mindfulness, ou atenção plena, há mais de 20 anos. Ele iniciou sua apresentação com alguns questionamentos para reflexão: “O quanto você está consciente do seu corpo aqui? O quanto você está consciente das sensações de contato do corpo e com a cadeira que o recebe? O quanto você está consciente da sua postura? Talvez tenha uma dor desnecessária e talvez você possa ajustá-la”.
Segundo o palestrante, as pessoas andam perdendo a percepção das próprias vidas e muita coisa pode passar despercebida. Ele ressaltou que todos querem viver melhor e ninguém quer sofrer. Mas a dúvida é “como viver uma vida com menos sofrimento e mais bem estar?” Ele ilustrou: “Você provavelmente conhece alguém que quer emagrecer? Ou ficar menos dependente do celular? Ou rir mais e explodir menos? Ou ficar mais contente com aquilo que já tem? Todos querem algo melhor!”.
Em sua reflexão, o professor explicou que emagrecemos e engordamos e tudo volta de novo. Ele questionou por que não conseguimos viver a vida que queremos e há tanto sofrimento desnecessário? “Não há uma resposta para essas perguntas. O nome deste tipo de sofrimento é estresse”, afirmou.
O palestrante exemplificou com as falas cotidianas: “me senti um peixe fora d’água” ou “fiquei fora de mim”. O curioso, segundo Little, é que um dos fatores subjacentes que nos impede de viver bem é não estarmos realmente vivendo. “Vontade não falta, o que falta é presença, é percepção. Talvez o que faço quando não estou bem, é justamente o que me distancia do bem estar”, reflete.
Piloto-automático ou desconexão
Stephen Little afirma que o ser humano tem dois hábitos de desconexão, um chamado de piloto-automático e o outro o distanciamento. Ele explica que estamos no piloto-automático quando andamos e não sentimos nossos movimentos ou o ar que respiramos, mas ficamos ruminando sobre aquela reunião que teremos com o chefe ou quando enquanto comemos ficamos mexendo no celular ao mesmo tempo. Ele ressalta que o custo disso é alto. O palestrante propôs uma atividade interativa para o público refletir: “Em quais situações do dia a dia você reconhece que entra no piloto-automático?”.
Segundo ele, existe outra espécie de desconexão mais sutil e talvez mais nociva que aparece claramente num conto irlandês “Um caso doloroso”, de James Joyce. Nele o autor descreve o personagem principal Sr. Doff , como alguém que vivia a uma pequena distancia de seu corpo. “É um caso de atenção alienada, que é a atenção sem experiência. É viver distante de tudo, como se fosse alguém olhando de fora, é sutil, é uma vida alienada.” Little explicou que estar constantemente bombardeado com mensagens publicitárias, ou ter vivido uma infância dura demais ou permissiva demais, são exemplos de fontes de atenção alienada.
Percepções sobre mindfulness
O palestrante ensinou que existe uma maneira de juntar a percepção e a experiência para viver. “É uma forma de prestar atenção que nasce do valor de querer de fato viver. É perceber o valor de estar aqui. E no momento que se percebe que se está fora, vir para dentro. É uma maneira de viver de renovação constante que é viver curioso. Esse é o tal de mindfulness”.
Ele conta que dois neurocientistas criaram um aplicativo e mandaram três perguntas para as pessoas: antes de responder, o que você estava fazendo? Você estava presente? E a emoção naquele momento? A conclusão foi que o ser humano vive 47% do tempo desconectado. “Não estamos presentes em metade dos momentos no planeta. São dados científicos. Uma mente que divaga é uma mente infeliz.”
Pausas de Mindfulness para novas percepções
O palestrante trouxe práticas vivenciais de percepção, como o fechar e abrir das pálpebras (que chamou de janelas) e a prática da respiração. O objetivo era mostrar há coisas que acontecem e não estamos percebendo? “O único momento que temos é o aqui e o agora”, ressaltou o palestrante.
Mindfulness depende de uma decisão pessoal, é intencional, não é constante. Tem que renovar quando nos desconectamos ou nos desligamos. A intenção da prática é “vem de volta”. E duas características que sustentam a prática são: “abertura e gentileza”. Abrir-me para algo que já está aqui. O ser humano quer outra experiência e não essa. E o convite é: não dá para aproveitar o aqui?
“A respiração serve como uma âncora” ensina. “Em algum momento, nosso pensamento é levado como o barco no mar, mas volta. Você pode voltar várias vezes. É possível viver uma vida plena junto com altos e baixos. Não é deixar a vida me levar. Não é linha reta, dura, nem permissiva demais. Viver é ter um desafio na dose certa. Que tenha brilho. Você veio para viver ou para andar de forma passiva. Isso é o que significa viver! Pequenos desafios diários com amor para sermos melhor”.
Como praticar no dia a dia
As dicas do palestrante são: cuide dos primeiros momentos do dia; durante o dia, tire alguns momentos para se renovar; foque nas tarefas diárias como andar, responder e-mails, conversar e atender telefonemas; traga consciência para o ato de falar e ouvir e não responda sem ter ouvido; preste atenção quando entrar em um novo ambiente; invente maneiras de se renovar sem ter que sair da empresa e, à noite, antes de deitar, traga sua atenção para o movimento dentro de você e, então, virá o sono profundo.
Ele concluiu que é possível viver uma vida plena com os altos e baixos. “Viver significa voltar sempre (para o momento presente) e depois me conte”.
“Que sorte que o Brasil teve de o professor Little ter escolhido morar aqui. Ele conseguiu o seu propósito: que todos estivessem presentes, prestando atenção e vamos prestar atenção no melhor da vida”, finalizou a Juíza Federal Raquel Perrini. O Desembargador Federal Paulo Fontes agradeceu essa vivencia tão rica.
Foto: ACOM/TRF3 |
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Da esq. para a dir.: O físico irlandês Stephen Little, o Desembargador Federal Paulo Fontes e a Juíza Federal Raquel Perrini, idealizadora do evento |
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O físico Stephen Little, ao centro; o Desembargador Federal Paulo Fontes (à direita) e a Juíza Federal Raquel Perrini, idealizadora do evento |
Assessoria de Comunicação Social do TRF3

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